18 de setembro de 2012

Menino


Eu procurei motivos para me manter suspenso nessa realidade. Encontrei em quem nunca procurei. Vi o mundo ceder e vi o meu pouco interesse nas coisas cotidianas. Amei, superei. Vi o amor da minha vida encontrar o amor. Deixei que fosse, pois era sábio. E fui esperto, por isso amei muito. Pela ciência do caráter, pela ilusão da eterna dor. Por atos vazios. Por péssimas escolhas. Por deixar fluir, fui julgado. E julguei, não protelei.

Foi assim. Assim que deveria ser. Não vi nos meus modelos algum molde que sustentasse as minhas escolas, que ampliasse o horizonte da beleza da insistência. Abandonei escolhas antes mesmo de tomá-las, e até mesmo essas seriam escolhas melhores.

E de todo arrependimento. E de todo meio, de cada derrota ou vitória, meus filhos equilibraram a equação...

Eles abandonam os pais quando percebem que não há calos suficientes nas mãos para amargar suas vitórias e suavidade nos calos para amenizar suas derrotas. Diferente do meu pai, que estimulava sempre a essência de ser cobrado pela própria natureza, nunca procurei um método, o que certamente me elevou. Por surpreender ao tomar dianteira nas aglomerações carnavalescas de uma simplória partida de tênis ou me esconder quando requisitado na quadra.

Arremessei minhas expectativas acima do potencial dos seus filhos e, apesar de ser paciente com as desistências e os conflitos da idade, sempre me vi orgulhoso, olhando toda explanação como tabela que segue o crescimento a ser continuamente observado. Não falhei, e ainda não sei como. Se eu escolhesse seguir os passos do meu pai, que oscilava entre um encanto quase esquecido nas pálpebras e uma seriedade cívica nos óculos de leitura, eu carregaria a mesma melancolia que os pais trazem consigo por não guiar os filhos por suas escolhas, por se deixar influenciar pelas guinadas desnaturadas de pais que aprenderam cedo a ministrar a cegueira da vida.

É curioso como nos esquecemos tão facilmente de como relembrar. Prendemos-nos aos óculos, aos calos de uma criação ferrenha. Deitamos em cima das nossas histórias e fazemos reboliço entre início e meio, para nunca encontrar um fim. Acredito que não haja. Tudo é continuado.

Eu mesmo sou resquício do garoto olhando o mundo pela janela, antes de poder domar o mundo em sua cela. Antes dessa promessa encontrada nos olhos de uma geração passada. No calor do momento antes da pergunta e no momento após o início, onde é dada a resposta que ressoará por séculos. Sou parte mãe e parte pai. Sou parte fraternal, e parte do irmão mais velho dar o exemplo.

Sou apaixonado ainda por cartas, telégrafos e boemia. Choro no alto da minha quinta idade os prantos de uma mente juvenil ressentido a solidão dos pais.

Vejo os cachos da minha filha e os olhos fundos do meu filho, abraço o apertado e forte adeus que nunca tive a chance de dar nos meus pais e os vejo ceder na lembrança que será resgatada em breve.

Ainda seguro o casaco que há pouco larguei. Castigo serrilhado do tempo que faz o casaco parecer menor, enquanto minha mão acompanha ladeira a baixo o ponto exato do botão. Estou menor, meus olhos riem a criancice de meninez. As linhas no rosto são reescrita com a mesma caneta, surpreendo-me com a tinta desta vez. Vivaz, como as continuações que regressam para explicar o meio termo entre progresso e nostalgia. Quase desboco no quarto ao ver minha mãe me observando com aquele olhar contemplativo. Papai fazendo um barulho na cozinha e gritando:

- O Jantar está pronto!

Volto e reflito de olhos fechados sobre os olhos pesados. Carrego-os facilmente de um ângulo a outro, passando a mão e borrando a tinta recém-aplicada: Sou menino outra vez.

4 comentários:

  1. Olá,
    Gostaria de parabenizar vc pelo blog, eu tbm tenho meu espaço , feito recentemente, que é dedicado a literatura, música, arte etc, espero que goste!
    Gostei daqui por isso virei um seguidor!

    Bjos

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  2. Sinto a sua falta. Volte logo, Antony.

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  3. Cadê você?
    Eu sinto falta dos seus textos. ):

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