9 de maio de 2013

Dois


Tu tens aquilo que serves a ti com pouco do pouco, tampouco, desmerecido teu. Cale-me com o silêncio subjugado, com os toques intencionados. Ouse arrepender-se antes, agredir-me com recuo. Silencie os pingos do choro. Dentro de nós há tanto por vir. Eu cresci sem ti. Com pouco mais, sem ti. Vivi além de nós, mas não há nada ali. Só há o vácuo. O silêncio é despenhadeiro. Eu era alegre, e às vezes, muitas vezes, feliz. Diz-me que há muito pouco não me recordei ao certo de ti, mas edificada em voto presenciou dor e sossego rente ao leite que morava em mim. 

E eu te farei tremer. Ocioso é o tempo da tua paciência. E tu terás o medo para suceder o confinamento do meu perdão. E virás a compelir rochas no estômago que rabiscarão as tubulações ocas que irrigam pele e osso. Os dias entupirão os olhos de necessidades banais, e tardes virão para ti em dolorosas intenções. Noites passarão como ruínas antigas de vida atrasada, como terra movida com os soluços do vento. Teu peso cairá. Tua boca secará. Dará lugar ao tudo que desejas ardentemente para perder o que não vires passar. Os dias virão em redemoinhos compassados em passos acelerados de quem estica o pescoço para ver longe. E esses dias muitas vezes secarão a terra molhada sob nossos pés descalços. E lama se fará disso, e alegria nos cercará até o fim.

3 comentários:

  1. "E eu te farei tremer." Você fez.
    Eu senti tanto a falta dos seus textos, por favor não suma mais.
    <3

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  2. Que lindo e profundo. Adorei.
    Parabéns pelo belo texto *-*

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  3. "Os dias entupirão os olhos de necessidades banais, e tardes virão para ti em dolorosas intenções."

    O envelhecimento, uma profecia incontornável.
    Belo!

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