13 de agosto de 2013

Enraizado


Preso nas armadilhas, os tentáculos envolvem-se fora, e não apanham. Cortes golpeiam o vento, que se estremece todo. Entre persianas vermelhas, olhos se fecham.

Vou trilhando meu caminho com pedras para empoeirar meus passos com cinzas.

Sua boca deformada, mas não sorriu. Seus pés cortados, mas não correu. Seus olhos turvos, mas não hesitou. Correu, e não alcançou. Dormiu, mas não acordou. Seus dedos ganhavam quilômetros de distância, e passeavam ali entre tantas estrelas, dançando como mão de garoto em brinquedo de infância.

Devo-lhe peripécias além da insinuação do imaginado. Devo-lhe tudo sonhado. Quero teus lábios e os ramos do teu vestido. Quero florescer e cultivá-la em mim, para que possas crescer entre pernas e desabrochar entre beijos. Quero me abater na sede do teu corpo. Carruagens transportam sonhos para o calcanhar da igualdade, e eleva teus desejos para que enriqueças com os meus elogios.

Retiro a fita que contorna os teus morenos fios de cabelo domado, como rosto suspirado na juventude dedilhada da recordação. E percebia ali, o rosto amassado e ligeiro de toda formosa precipitação, que os olhos pequenos e curiosos duvidavam de tudo. Desfio cada tendenciosa linha que escolta tua determinação até os calabouços do meu precoce movimento, afastando-o das ramificações ligeiras da mente, enquanto desdobro a pele submissa com o polegar emergido na alça do teu vestido.

Corpos andam ligeiros ao encontro antecipado. Beijos rolam soltos ao horário marcado. Toques se entranham maravilhados e se chocam com facilidade. Fogo nasce da partilha de movimentos, arde como se pudéssemos criar ali o ninho para nossas crias. E inundaremos no calor dos corpos. E protegeremos no calor das suas paredes frágeis.

Mais uma vez entregue em retenção e desacordo. De acordo assinado com o entorpecente chamado dos grandes bolsões de ar.

Lamento o intervalo entre as batidas tortas do teu coração e não residir nos tentáculos do tempo, enquanto bate em ti o amontoado e ensanguentado passageiro do atraso.

2 comentários:

  1. Tem como não amar tudo que escreves?

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  2. Meu bem, que texto maravilhoso. Saudades de você. Por que tem demorado tanto a postar?

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