Desde que nos separamos, não só relutei a indiferença das suas feições como aceitei seus atos impessoais e incômodos, sendo-lhe agora franco. Partiu cada pedaço do meu minúsculo e intocável coração, desejando desbravar corajosamente ambientes desconhecidos. Provara da audácia ao se camuflar nos meus sonhos, retocando-lhe nos encontros para reluzir a máscara que mal cabia em seu rosto.
Senti que o meu mundo fosse cair, mas ao estremecer o mundo, vi o tamanho da sua queda. Gigante como a desgraça sobre as nossas cabeças, ergueu-se para acenar desculpas e promessas. Recusei o inflexível gesto de um rosto inexpressivo, incapaz de sentir a poeira comer seus lábios e aterrar seus sonhos.
Quis amar suas escolhas acima de tudo, mas só pude odiar minhas decisões acima de todos. Precisei do mínimo para se sentir completo, e ao seu lado precisei de tudo e nunca me senti satisfeito.
Ousávamos, de vez em quando, adquirir propriedade quando transpirávamos diante de nós mesmos. Cego de toda sua deficiência e imune do meu desespero, encarava-me ofegantemente e costurava suas feridas com os retalhos do nosso tão vaidoso amor.
Só considero a naturalidade de suas desculpas como alguém que observar pelos cantos desejando o perdão de quem está lá fora, esperando que este despenque do céu caloroso e chuvoso, impregnando na sua mente a certeza de um mal passageiro.
Fiz-lhe tantas vezes gigante para derrubar meus castelos e findar sua pátria de infidelidade. Falava comigo em termos, pausadamente, para assim poupar-me da pretensão das longas conversas. Já degolava o meu corpo simbólico nas palpitações dos seus toques. Daí tornou-me recipiente para o desgosto de suas aventuras e depósitos de suas saídas, enquanto castigava minhas virtudes como quem recebia com fervor a anulação de um contrato.
Segurava suas verdades como tochas erguidas para iluminar noites, enquanto eu escurecia manhãs para vê-la valente mostrando-me o caminho da sua honestidade. Acendi uma vela, mas como não depositara tanto em mim, o vento reclamava e o fogo, descontente, abandonava o pavio no meio da dança. Encontrei caminho melhor nas suas mentiras. Daí afastou-me de vez, percebendo pela primeira vez sua cegueira.
Rogava por ti através de uma fé desconhecida, resmungando calado para um Deus ciente das minhas limitações.
E você continua procurando uma luz no fim do túnel. Você continua procurando esclarecimento nas suas verdades sem saber que elas mentem para você.
Todas as vezes que termino de ler um texto seu, eu coloco as mãos no rosto e penso: Como alguem pode escrever assim, tão pra mim?
ResponderExcluirBom encontrar pessoas que se dão bem com as palavras.
ResponderExcluirFlores.
Eu não sei exatamente dizer o que senti ao ler o seu texto, só quero que saiba que ganhaste uma nova leitora. Escreves de uma forma linda. Parabéns!
ResponderExcluirUm beijo, @pequenatiss.