Descrente

Diz que sou carente para arrumar-lhe bons motivos para contar sua poesia particular aos cantos mais silenciosos da casa. Julgava-me cega por não enxergar o amor diluído na pressa de sua disposição. Sendo assim, restava-me apenas a pouca juventude usada para atraí-lo, roubando-lhe de outras casas, dos interesses que cessavam a cada disparo. Já não tivera luz, nem a qualidade de refletir, e nem alguém a quem possa oferecer prestígio em troca de brilho. Essa sociedade é o dom da minha criação, onde posso supor aquilo que vejo sem me orgulhar do que faço.

Vejo-me distante do tempo, amargurada com o amor que lhe deixei roubar, e não tivera cuidado ao manejar. E você não é mais garoto para encontrar-lhe escondido a usufruir de um novo brinquedo, e nem transpirar ao ritmo nervoso que provoco ao abrir a boca. Percebo-me chorando ao vê-lo guardar de qualquer jeito o brinquedo, que outrora era importante, concorrido e ostentoso, que nesse momento puxa, em seu olhar estático, sua atenção. E sou moldura para elevar-lhe entre os amigos, e acompanhá-lo entre as alegorias que arrastam os olhares. E não sou nada para você.

E suas promessas chegavam a encher-me de sonhos de ternura eterna, levando os olhos num gesto de confiança, entregando-lhe o meu coração. Não vou apontar o que foi-lhe assegurado, mas vou te poupar do sacrifício que se tornara dividir o espaço com a minha presença. Vou aposentar-me de ti, largando-o em qualquer lugar, assim, inocente que sou, vou aprender a provocar o interesse de quem me projeta no futuro, e escolhe admirar o encanto que se renova a cada dia.