Le velo du Printemps

Somos a visão daquela lente que será desconstruída ou da história que será modelada e com a influência de alguns, modificada. Somos a cor que se embaraça com os limites da ferrovia ou os ladrilhos que serviam para me guiar até sua casa.

Sou a intenção de te amar além do que será contado. Estarei além do quadro que enfeitará a nossa sala, sendo um sorriso que passará lentamente enquanto você relembra a primeira vez que você sonhou com isso.

Fiz um contorno por ruas alagadas, vendo filhos soltos de uma urgência de pais. Ouvi palavras confusas de senhores enormes, que atendiam o entendimento de um ouvinte mais inseguro. Silenciei com um sorriso, consolidando a teia de pedalas contidas. Estava perto do calor, porém distante da ferrovia. E a primavera passa numa corrente, levando a preencher os buracos da blusa. Pessoas falando, gritando, sem soltar a lembrança do gesto que faz o deslocar de lábios, dessa forma, só ouço o meu próprio coração dançar conforme as pedaladas aceitam o seu destino.

Já venho caindo de um lado, sem maiores precipitações. Vou navegando, agora num mar de acertos, por ter feito as escolhas que fiz, por viver na conformidade. E de fato, estou conformado com isso.

Estou deslizando o polegar pelo seu rosto, retirando uma mecha enrolada nos olhos. Sua boca, alongada com o sorriso, assim como a sua blusa, encharcada com o calor. Assopro delicadamente para provocar agonia entre os cílios, vendo que a manhã trará lembranças além da fotografia.

E me perco do caminho que fiz, do que estou fazendo, do que vou fazer e do que já estará feito até este momento. E estamos além do preto e branco, do passado perdido em algum lugar ou da inocência que persiste em cada olhar. Somos o amor, deixado de lado, reconquistado, infiel ou eterno. Somos a admiração daqueles que estavam ou nasceram aqui.

Seremos neste desembarque, o alvorecer que seca as fibras congeladas, a mão que serve para um persistente aperto da vida que já esteve ali.