Eis uma questão que irá amaciar a razão daqueles que balançam o céu com a cabeça: O silêncio não existe.
Fizera questão de amassar um esboço de uma amiga, engolida pela palidez do tempo. Financia-se o péssimo hábito de abrir portas para passantes e atender galerias como instrutor de arte.
Casaco apertado, mãe. A fumaça que destroça uma família é a denúncia que deita na vibrante língua dos vizinhos.
Adore toda essa miserável ausência de gritos! Mãe!
Outra: Que monstro consegue abrir a noite com os olhos, daqueles que deslizam pela cama e abraçam teu rosto como um travesseiro?
Estranho admirar-te se o bem que criara apenas enaltece os teus problemas e surgem como pomadas para as tuas feridas. Estranho, por estranhar mesmo. Não consegue olhar-me nos olhos, por isso esconde teu ar inexperiente nas atrocidades que cometera. Pois eu lhe digo, ainda cairá. E quando cair, nem as formigas lhe darão abrigo.
Já lhe preparo um banho de sangue. Sente-te, limpe os olhos e veja a carnificina ganhar forma e cor. Há muito tempo venho tramando uma forma de revidar, mas não tive como manter os planos.
Vejo o soluço apalpando um canivete por detrás do lenço.
Eu vejo todo tipo de maldade disfarçada num sorriso sádico e costumeiro.
E vejo toda insuficiência pronta para lhe degolar.
Por mais que eu tente apertar o gatilho, e lá no fundo a música tome proporções diabólicas, sou como um prisioneiro da dor que corta o seu disfarce.
A maquiagem que colocara para cobrir a cicatriz, jorrando seu desespero. Apressa-te a engolir esta saliva imaginando que ela é o sabor de tudo o que pode ser visto e nunca será provado.
A maquiagem que colocara para cobrir a cicatriz, jorrando seu desespero. Apressa-te a engolir esta saliva imaginando que ela é o sabor de tudo o que pode ser visto e nunca será provado.
Belíssimas palavras, Anthony.
ResponderExcluirUm ensaio para o fim do mundo. Isso muito me interessa: a poética do limite. A gente não sabe bem onde termina e começa, e as linhas todas ondulam como numa dança que não cessa quando a música acaba.
ResponderExcluirDefinitivamente, o melhor blog literário que já encontrei na internet.
Cabe [ou não] verificar se uma potência poética das palavras do primeiro lado imanam com as do segundo. Ou talvez o ruído dessas relações seja o potencializador de uma e outra - afinal, todo contato é ruído.
Provoca imagens e movimentos, ainda que a narrativa seja pouco iluminada, se fazendo por flashs, como uma sucessão de blackouts intermitentes.
Evoca a morte através da forma que evoca sua oposta - a intermitência não configura menos que o motor da vida: as batidas do coração e a distribuição de sangue pelo todo.
Brilhante.
"A maquiagem que colocara para cobrir a cicatriz, jorrando seu desespero. Apressa-te a engolir esta saliva imaginando que ela é o sabor de tudo o que pode ser visto e nunca será provado." Você é brilhante meu rapaz. Brilhante.
ResponderExcluirNão sei bem o motivo, mas isso me parece tão familiar como se a mim também pertecensse... toda a sensação evocada pelo texto, e todo o texto...
ResponderExcluirAo final eu fico sem palavras, a não ser as elogiosas. Parabéns...! =)