O vento caiu nas folhagens secas retidas no canto da janela, em mármore fria lampejante. Os calafrios tomaram-lhe a alma emprestada, enrolando aquele rosto meigo de menina. Seus olhos reviraram, mas pouco viu. Fechou-se, o céu abriu, e com tempestuosa passagem, descolorindo janelas, podou suas auréolas na face dos desajustados pingos para colher os desajustados homens, pequenos em seus afazeres, na pressa para não se molhar.
E muito cedo o olhar severo
causava-lhe lágrimas secas. Lágrimas censuradas e derramadas pelo escoamento
sinuoso do queixo. Menina fraca, e bela. Posso escoar suas lembranças para a
capital do meu ser, sobre o reino que conquistei. Arranca-me os braços finos de
dedos minúsculos, do fôlego de ir lá fora e encontrar o escuro. Promete-me
olhos maternos, e eu corro até lá. Corro e prometo não te afundar em minha
solidão, não te impregnar com minha tirania. Não te encher com minhas
histórias, e não fazê-la a inspiração que tanto almejo.
Jogou-se no chão de birra,
fez do assoalho poeira. Caíam-lhe súbitos os olhos tingidos sobre espasmos e
suspiros corados. Despertavam ali ondas francas de sobriedade, de pura ressaca.
Perdeu-se contando os frutos do homem que tanto cultivava. Jogou-se novamente,
mas o chão não estava mais lá.
Os fracos ossos desistentes de tantos passos descansaram dormentes.
Os fios de volumosas curvas arrebataram os caminhos do vento e lá foram fiar
sua estranheza descomunal. Naqueles dias em que a chuva descia salgada e o sol
desafinava o canto dos pássaros, ouviam-se os sussurros alegres de Vitória,
filha mais velha e pouco atrevida. O sol e seus inúmeros grãos escuros e
claros, dormentes e escondidos. O brilho de centenas vontades, de persistentes
planos. Sua preocupação forte no rosto, fazendo sombra fraca na parede. Sua
pele escura ensejando preocupação. Buzinas arrancam inconfundível admiração
dela. O canto florido, lá fora, pouco varrido, quase árido. Cortinas se
aglomeram no céu, festa sobre pilastras azuis e tecidos feitos de algodão. Costurados
com as pipas rasantes, enfileiradas. Nebulosas camadas de chuva se aglomeram
primeiro em uma folha na bica de casa, essas bainhas de eco e combustível para
todo coser e pouco fiar.
O sol rebatendo e respigando, erguendo-se e
esgueirando-se, calmo o candelabro vertiginoso de mil e cem navalhas reluzentes
fitando o chão. Ela olhou nos meus olhos e me viu sorrir, novamente. Disse
coisas que eu queria ouvir, outras que jamais imaginei, enquanto outras só saíam
enquanto a luz contornava sua face. Queria aproximar-me dela em palavras, com
os toques comuns de um franzir ou de um beijar. Seus olhos intimaram meus
gestos infantis, poucos ajustáveis. Desmanchou o rosto nos meus dedos
calejados, frios e cansados. Eu a vi escondida entre nós e embaraços. Não
desfiz nada.
*Esse será, lamentavelmente, o último texto do Blog. Estarei disposto a uma nova etapa dos meus trabalhos iniciados aqui, e os seus comentários e suporte foram de extrema importância para esse novo passo. Saio do Blog com a intenção de ganhar suas estantes, mas sei que sempre terei vocês aqui, e assim me terão também. Obrigado pela paciência, assiduidade e companheirismo nesses últimos anos. Até mais, leitores.
*Esse será, lamentavelmente, o último texto do Blog. Estarei disposto a uma nova etapa dos meus trabalhos iniciados aqui, e os seus comentários e suporte foram de extrema importância para esse novo passo. Saio do Blog com a intenção de ganhar suas estantes, mas sei que sempre terei vocês aqui, e assim me terão também. Obrigado pela paciência, assiduidade e companheirismo nesses últimos anos. Até mais, leitores.
épico como sempre!
ResponderExcluirMeu amor, não me abandone. Perdão pelo egoísmo, não nos abandone. Eu fiz do seu blog fonte de inspiração por muitos anos, não posso conceber sua ausência. Por favor, o último não, por favor, desesperadamente, não.
ResponderExcluir