1 de outubro de 2016

Barbarás

Barbarás vivia atrás do manto, dentro de uma luva de príncipe.
O rei batia os pés e Barbarás tropeçava. O rei subia e Barbarás caía.
E todo o reino sabia que atrás do rei uma sombra surgia, e Barbarás todo elegante, atrás da peruca, sorria.

Seria inédito vê-lo descer e andar entre os vassalos, lhe ocorrendo algo semelhantemente inédito. Mas gostava mesmo é de dormir nos ombros do rei, e sobre a surdina beliscar sua face rosada e se cobrir com suas pálpebras pesadas e quentes. O rei era tudo o que tinha. E se não tinha tudo, decerto o rei o tinha.

Por um instante, adormeceu sobre os sapatinhos pequenos e acordou enrolado nas fivelas. Por longos períodos adormecia e acordava em lugares estranhos. Barbarás não se importava com isso, pois dentro ou fora, caído ou levemente espreguiçado, se orgulhava do tecido nobre que sob ou sobre ele se estirava.

Descobriram também, muito mais tarde, que Barbarás vivia dentro das embarcações descobridoras, dentro de uma pedra meio naufragada, dentro da barba suja de um beberrão.

O homem-sombra.

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