30 de novembro de 2016

Vaso de planta

O vaso do jardim era enorme. Era um funil escuro e ao mesmo tempo um clarão no novelo, incendiando aos poucos os fios querosene, enroscados no corpo grotesco de plástico reciclado. Era também um poço, e lá dentro caía terra assim como dali terra também caía. O vaso de planta, em mês qualquer como novembro, ficava no jardim, entre aquelas crianças arruaceiras descamadas, enterradas das raízes ao dorso verde de suas folhas sinistras, como dedos de bruxa apontados para um sótão. O vaso de planta, se me permite excluir de sua memória o que lhe encantava quando pequeno, de nada doce ou muito banal tinha. Era enormemente deselegante, perdia o equilíbrio constantemente e sujava todo o assoalho. Dos buracos, pingos se tornavam um aguaceiro sem fim. Toda vida sucumbia ingenuamente ao seus suaves alardes e flertes agressivos. Sequer os animais da terra ou o sol do meio-dia, sequer as plantas sabidas. Nenhuma vida se legitimava. 

Foi quando, em um dia desses de novembro, me perguntaram o que eu já sabia ser uma boa pergunta: pra que serve um vaso no jardim? 

Resposta: para que suba aos céus como querido de Deus, e não peque entre seus com o nariz acima do queixo e o queixo acima de todos, mas para que fique com os pés fincados e a cabeça acima dos demais. Para que olhem e vejam, e toquem, o vaso, as plantas no vaso, a terra molhada. Para aproximar o além. 

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